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segunda-feira, 27 de abril de 2009

POETAS EM DESTAQUE

VERSOS ABSURDOS

São José desceu o monte
Amuntado numa jia,
ele e Virge Maria.
Seu Chico o sinhô me conte
O que viu no horizonte,
Como foi o seu dia-a-dia.
Por trás da pedagugia
Eu cumi um javali.
Tire esse bicho daqui.
Tiradente já dizia.

O meu cumpadre me conte
O que comeu de manhã.
Comeu quarenta maçã
Deitado no pé-da-ponte.
Vou buscar água na fonte.
Mode molhar o seu colo.
Os caranguejo eu esfolo
Com um quicé amolado.
Seu padre tome cuidado.
Com a profundeza do solo.

Onde mora a cobra choca
Mora também a princesa.
Deixei quatro vela acesa
Num furico de minhoca.
Umas quinze tapioca,
Eu vi Dom Pedo comer.
Depois vi ele acender
Um charuto de taboca,
Num camião de paçoca
Azeitada no dendê.

O meu nome é conhecido
Nas budega de Belém.
Cheguei de Jeruzalém
Num carro de boi molhado.
Ai prantei meu roçado
Colhi duzentos bozó.
Não tem cantador milhó
Do que Zeca Teixeira.
Já negociei na feira
Muita cobra de cipó.

Com a Princesa Izabé
Eu dancei em Limoeiro.
Não tem bicho mais ligeiro
Do que vaca no quarté.
Os home só mija em pé
As mulé acocorada.
Espora, calça rasgada,
Bacamarte, lazarina.
Viva Tereza Cristina
Rainha da vaquejada.

Atrás de vaca entojada
Meu cavalo se perdeu
Quando o Sol se escondeu
Por detrás da carne assada.
Não foi o Sol não foi nada
Foi uma bola de grude.
Tomei banho no açude
Pra me limpar dos pecado.
Nabuco foi meu cunhado.
Eu quiz morrer mas não pude.

Jesus Cristo assentou praça
Na puliça militar
E se casou no Ingá
Com uma moça sem graça.
Pru favor você me faça
Um guizado de cutia.
Na luz da melancunia
Eu votei num deputado.
A vocês muito obrigado
Adeus, inté outro dia.

Edvaldo Bronzeado


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ISPRICAÇÃO DE MATUTO

Eu tava ali iscuiendo
um talinho de capim
mode palitá os dente
quando se chego pra min
um sujeito de liforme
todo dento dos conforme
po seu joça percurando
inquanto eu me acocorava
e os dente palitava
fui logo li ispricando

Entrando aqui as isquerda
nesse arremedo de istrada
é ajeitá o chape
e sortá a caminhada
vá sem pressa ô agunia
saia no raiá do dia
leve áqua e rapadura
se benza e ande cum fé
qui as chinela dos pé
vão te légua cum fartura

Mais na frente um bom pedaço
Na baxa das oiticica
Vois micê pegue as dereita
Onde canta uma peitica
E pode andá sem coidado
arroxe no caminhado
apruveitando a discida
e quando chegá no brejo
si iscuitá argum frejo
é aima da ôta vida

Mais pode passá sem medo
sem tê aguniação
é uma aima de luz
do vaquêro Damião
qui mora lá na baxada
ali perto da manada
de seu Zuza de morais
dexe um cigarro de paia
pindurado numa gaia
e num olhe nem pa tráiz


Quando o chão ficá batido
e cumeçá os lajêro
dê um discanso nas perna
adonde tem um visguêro
beba áqua e vá pa frente
o só já deve tá quente
é bom apertá o passo
qui as légua vão se ajuntando
e o sujeito caminhando
inté isquece o mormaço

Daqui umas cinco légua
tem uma casa caída
rudiada de pinhão
e uns pé de macaíba
é de cumpade Cardoso
meu amigo tão saudoso
home da fisolufia
qui sabia inté das dô
dos nó qui tem o amô
da tristeza e d’aligria

Tome uma furga onde a istrada
si imenda nôta rodage
iscorra o suó da testa
e continui a viage
num s’interta cum caboge
pegue na boca do arfoje
e fique de ôi aberto
se vê cibito cantando
e soin assuviando
é qui tem onça po perto

Mais ligerim tu discamba
na serra do vira pé
onde nasce o rio corda
na terra de seu casé
e num simpai cum cunvesa
é mió andá dipressa
pá ninguém te vê passá
jbote argudão nos pé
e faça qui nem muié
quando a franga qué sortá

Se o véio casé ti vê
vai se grande o cunvesero
de quando ele foi pá guerra
lá pás banda do istrangêro
pois inté o home da cobra
seca a boca e a língua dobra
de tanto tirititi
dexe pá fazê merenda
na divisa da fazenda
do véio Chico Davi

Vois micê num si avexe
Cum a minha ispricação
si o dizido ta cumprido
maió é o istirão
seu moço a casa de joça
é numa triste biboca
onde num passa um vivente
o minino Luciano
qui já tem catoze ano
inda num cunhece gente

me adiscurpe o preguntado
micê é argum parente?
É mascate? É dotô?
Vai visitá um duente?
pois aqui nunca passô
sujeito caminhadô
qui fosse lá na imboca
o moço é mermo disposto
dêve fazê munto gosto
mode visitá seu joca

Mais Cuma eu ia dizendo
lá dispois de seu casé
do véio mane Davi
e do sítio catolé
micê já vai avistando
uma serra se azulando
no rumo do só morrente
sigure seu caminhado
só farta mais um bucado
dezoito légua pá frente

Mais quando o home saiu
munto triste acabrunhado
cum aquela mala na mão
e um rádio pindurado
eu fiquei a maginá
será queu fui minganá
e mostrá o rumo errado
agora já tá sem jeito
e inté qui o tá sujeito
era bom no caminhado

Será qui o tá do joca
qui o sujeito preguntô
é mermo mane de joca
qui se casô cum dardô
ô será o budeguêro
bem ali do tabulêro
fil de seu Chico rumão
qui mora lá vizin deu
neto de Zé de Abreu
qué vendedô de fejão

esse povo da cidade
só anda munto avexado
e só sabe apreguntá
de um jeito compricado
agora eu vô partorá
qué pá quando ele vortá
eu num ta aqui po perto
vô pegá minha carroça
e miscondê na paioça
lá no açude de terto

José Irlando Morais - Juazeiro do Norte/CE

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A GARGALHADA DA NOITE


Uma estrela caiu
Fazendo cócegas na noite.
A aberta boca negra
Presa a mandíbula da lua
Que ilumina os seixos
No fundo do rio,
Deixa que os pássaros agrueiros
Risquem o céu de pavor.
Nesse túnel espacial
Ouve-se risos,
São os lábios da noite
Vazando gargalhadas
Pela façanha de uma estrela caída.
Mas a estrela não sorriu.
Chegada à aurora,
O sol a retornou ao seu lugar
E o eco da gargalhada da noite,
Perdeu-se entre as nuvens
Que sugam a água do mar.
Choveu.


Jair Martins


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SONETO DA INOCÊNCIA



Foi aqui que vivi minha inocência
Nessas terras tão secas do sertão
Foi aqui que o lendário e Lampião
Me legaram estudo e paciência



Misturando História com ciência
Suas lutas, batalhas e vitórias
Lhe trouxeram as perdas e as glórias
Que o povo não teve consciência

O pior do seu mal foi a demência
Uma mulher que lhe fez por capataz
O tornando fiel, atroz, audaz


Foi assim que a vida o definhou
E o seu manto ate desmascarou
Tendo a morte seu mais triste cartaz.



Paulo Dunga



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Eu, poeta póstumo
breve infinito
deus doente de vísceras expostas
aos pedaços etc etc etc
desci ao salão de ossos; ante-sala
dos infernos de mim mesmo:
da vida fechada para balanço
da vida jogada em máquinas eletrônicas
e engoli fumaça negra de fábricas
enquanto recitava alto
meu canto azul desnorteado
em linhas de montagem com o frescor
de lírio no álamo.

Eu, que às vezes, amei mediocremente
não sei porque ainda recordo a íra
com que vieram contra mim; que ainda
recordo o amor que faltou para mim
que andei desgarrado e preso também
no fogo no tédio no sono.

Hoje, acordo denso e morto
à espera do silêncio definitivo
(os que ainda vivem, desapareceram
como rebanho de ventos
no último dia do século).
Quando ouvi isso
era como se mortificado
não pudesse afundar no silêncio
ali mesmo.
Nem suportar tudo de novo;
outro dia outra infância.
Nem enfrentar algo novo
por envelhecido e com medo
de estar-me vivo apodrecendo
até o fim de tudo.

Rogério Generoso

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