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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

OPINIÃO com Josessandro Batista de Andrade

Josessandro é poeta e professor


O Vale fértil- Mestres do Moxotó cantam a fecundidade do Sertão

O Sertão, como região pertencente ao Nordeste brasileiro, cuja vegetação é a Caatinga,tem no clima semiárido um incrível potencial de fertilidade, apesar da escassez de chuvas. Enquanto na região Agreste há uma maior presença de precipitações pluviométricas, mas o solo é fraco e pouco produtivo para agricultura, O chão sertanejo é forte e rico, e mesmo com pouca água, possui uma fertilidade das mais abundantes.

Os longos períodos de secas contribuíram para se criar uma imagem estereotipada do Sertão nordestino, a de terra miserável , marcada pela estiagem, cujo drama teria como consequência retirantes e flagelados fugindo da seca, figuras esqueléticas a mendigarem um prato de comida, a simbólica caveira de uma vaca encravada numa estaca de cerca, escangalhando todo o cenário sertanejo, que de tão cantado e retratado em diversas obras da literatura e da música, acabaram virando um clichê falso , a servir tanto para produções eivadas de um panfletismo ingênuo, quanto para Criações artificiais, onde aborda-se de forma superficial o problema. É que não enxergam a questão da concentração de terra, como grande obstáculo a uma maior produtivdade, uma vez que havendo uma divisão agrária, com incentivo e apoio a situação do campo seria outra.

Hoje já começa a brotar uma nova e mais real imagem do Sertão nordestino, a de uma terra, cuja paisagem social vem sendo modificada velozmente, quer seja pelos maciços investimentos sociais na região, quer seja pelos efeitos decorrentes da globalização, da produção aos bens de consumo que vieram com uma maior oferta de empregos , consequentemente ampliação de mercados e oferta de crédito fácil. Antenas parabólicas tomam há mais de uma década os tetos das casas , ás vezes até de taipa. Motos tomam o lugar de cavalos no transporte e no atalho e tangida do gado. Ao mesmo tempo em que tem mais acesso a escolarização , maior leva de sertanejos tem se tornado presa fácil do consumismo modista e da alienação da cultura de massa.


O Sertão do Moxotó é uma microrregião sertaneja, caracterizada pela hiperxerófila, vegetação caatigueira acentuadamente fechada, mais seca, quente e cheia de espinhos que as demais microrregiões sertanejas. E Também no Vale do Moxotó, que o Sertão se revela como lugar diferenciado pela fertilidade em múltiplos sentidos. A história da colonização do Sertão do Moxotó inicia- se em 1720, Pantaleão de Siqueira Barbosa , bandeirante português, após prear índios e penentrar sertão adentro, chega as Margens do Rio Moxotó onde finca uma cruz na localidade conhecida como Poço do Boi, mas tarde Poço da Cruz. Observara no Estado de Sergipe, que os negros que eram fugitivos , tinham um perfil em comum: o de possuir mão- de – obra qualificada, negro carpinteiro, pedreiro, Mestre de couro, etc. Por isto não aceitavam a escravidão para o trabalho pesado, safando-se das fazendas escravocratas e mesmo quando recapturados pelo capitão –do – mato preferiram morrer chicoteados no “Tronco” do que voltar a aceitar a vida de escravo no serviço bruto. Recebiam a alcunha de “Negro safado”, que era negro imprestável para o serviço braçal duro, sendo portanto um negro sem valor comercial. O que fez Pantaleão? Saiu comprando quase de graça estes “negros safados”, mas de mão de obra qualificada e os trouxe para as margens do Rio Moxotó, onde ali implantou um modelo diferente de colonização baseada em novas formas de tratamento para os negros: Senzalas abertas, castigos físicos como o “Tronco” abolidos, os negros passaram a comer na mesa com o seu senhor e tinham direito aos domingos para o lazer, caçar, pescar, tomar banho de rio. Este modelo fez com que os negros ajudassem Pantaleão a construir uma das maiores fortunas do Nordeste brasileiro daquele período. Pantaleão comprou outras fazendas no Sertão e no agreste, além de Engenhos de Acúcar na zona do Mata e outros estados, espalhando assim o sangue dos Siqueira do Moxotó, misturado ao sangue negro e indígena por os mais diversos recantos do Brasil. Falecido em 1793, foi sepultado na povoação Jeritacó fundada por ele. Como podemos observar a mínima reforma social implantada por Pantaleão Siqueira no seu projeto produtivo trouxe prosperidade, apesar de manter as raízes seculares da escravidão e do Latifúndio, de origem feudal, que em nosso País alicerçou-se nas capitanias heriditárias, com toda sorte de injustiças e desigualdades sociais. Da sua descendência surgiram, por exemplo o Siqueira Campos do Forte de Copacabana, O Cardeal Arcoverde,o 1º Cardeal da América Latina e os Mestres das ciências e das Letras: Ulysses Lins de Albuquerque, poeta , memorialista, advogado e educador e Alcides Lopes de Siqueira, poeta, contista, ensaista e Médico, consolidando o Moxotó como um vale fértil de poesia, literatura e vida inteligente.

Algumas peculiaridades do Moxotó o fazem uma região especial, a exemplo da Lagoa do Puiu, Metade de água doce e outra metade de água salgada, a Cabra Moxotó, raça nativa , que já foi cantada até por João Cabral de Melo Neto no “Poema da Cabra!,cabra considerada pé –dura, mas que tem o leite mais forte e uma pele extraordinária, e por ser natural desta região possui incrível resistência e maior capacidade de adequação a terra e as mais assoladoras secas. Além Disto, o Rio Moxotó, conhecido pela fúria encantadora de suas águas em época de cheias e da Serra de Jabitacá, que localizada no Moxotó, na sua Majestosidade, abraça as três ribeiras principais do Sertão : A do próprio Moxotó, a do Pajeu , pernambucanos, e a do cariri paraibano. Esta serra é fabulosa, quer pela abundante flora e diversidade de sua fauna e riquezas naturais como fonte de águas cristalinas, quer pelas histórias lendárias que carrega. Vale salientar ainda a beleza da região dos Campos, baixio da serra, habituado por possíveis descendentes de europeus, tendo ali a localidade”Cacimba da Flamenca”. Há ainda registros de fosséis De animais prés-históricos encontrados na Lagoa dos Marinheiros e Pinturas primitivas registradas em rochas nos Sítios Boqueirão e Barra.

O Moxotó vem obtendo um reconhecimento pela força de sua literatura, seja em poesia, seja em prosa. É na Poesia que três Mestres constituem O Tripé Da poesia Moxotesca: Ulysses Lins de Albuquerque, “O Trovador do Moxotó”, Waldemar Cordeiro, “O Gênio do Lirismo” e Alcides Lopes de Siqueira, “O Menestrel do Sertão”. O primeiro e o último fazem parte dos Siqueira do Moxotó, que dentro da poesia moxotesca constituem uma Raiz ou Corrente, composta pelos mesmos e mais o filho do último, Mozart Lopes de Siqueira, Rosa Ignez, Inah Lins, Carlos Celso,Duval Brito, Walmar,Renildo Siqueira(Gripa de Sertânia), Luiz Wilson, Paulo Mariano, Rildo Mariano, Ada Siqueira, Zito Jr., Josessandro Andrade, Leonardo Mariano, Luciano Magno, entre outros.

De acordo com o teórico russo Mikhail Bakhtin, a linguagem é dialógica, ou seja firma sempre um diálogo entre, no mínimo, dois seres, consequentemente dois discursos. Segundo ele, “Os enunciados não são indiferentes uns aos outros, nem auto-suficientes; são mutuamente conscientes e refletem um ao outro... cada enunciado é pleno de ecos e reverberações de outros enunciados, com os quais se relaciona pela comunhão da esfera da comunicação verbal.”



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