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quarta-feira, 13 de agosto de 2008

POESIA MATUTA

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Poeta Bob Motta

Moro bem pertíin do morro,
onde a fáuna, livrimente,
inda é feliz e contente,
e vê a vida passá.
E eu, poeta apaixonado,
amante da natureza,
me integrando a essa beleza,
resôiví participá.

Faiz aigum tempo, dotô,
qui eu boto in riba do muro,
fubá, xerém, míi maduro,
p"ruis passo se alimentá.
Tôdo dia de menhã,
êles se assenta cantando,
cuma quem diz: Tô chgando;
já é quage um rituá.

E cum êles e seu cantá,
eu tanto me acustumei,
qui de repente, pensei,
e fiz cum munto caríin,
duais casinha de madêra,
bem potregida e cuberta,
cum porta e jinela aberta,
mode êles fazê seu níin.

E quando eu vejo uis bichíin,
entrá e saí à vontade,
minha ritina, in verdade,
num sei cuma num discola.
Nem sei cuma um sê humano,
pode surrí sastisfeito,
vendo um passaríin sujeito,
prêso dento da gaiola.

Um cunvite mê istrãe,
eu faço e digo pruquê.
O cunvite é prá você,
qui tem passo in cativêro.
E se você aceitá,
eu duvido qui num pare,
prá pensá e num iscancare,
ais porta de seu vivêro.

Eu quero lhe cunvidá,
mode fazê uma visita,
qui num é nada bunita,
lá na colonha pená.
Mode vê hôme injaulado,
e seu sembrante qui ixprime,
qui êle tá pagando um crime,
eu acho inté naturá.

E o pobre do passaríin?
Agora, pregunto, eu:
Quá crime êle cumeteu,
prá ficá incaicerado?
Puracauso foi seu canto,
qui de menhã lhe acordô,
e você se alevantô,
mode êle, tão ressacado?

Bom, meu recado tá dado;
num sô mió qui ninguém.
No meu poema, porém,
quiz chamá sua atenção.
Pois eu prifiro, seu môço,
vê uis bichíin livre assim,
cantando no meu jardim,
do que dento d"um açaprão...

Poema do livro “Pé de Parede - Cordel de Cabo a Rabo”, edição Fundação Vingt-Un Rosado, Mossoró 2001, esgotada.


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