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terça-feira, 3 de novembro de 2009

CRÔNICA DO DIA


Tais Luso de Carvalho

Nós, brasileiros, estamos acostumados a nos emocionar através das tragédias: almoçamos e jantamos com noticiosos que fazem de nossas refeições um inferno. Quando não mostram assassinatos, torturas e seqüestros, mostram doenças terminais com todas as suas variantes, ou pessoas com os mais diversos problemas odontológicos. São apetitosas, as nossas refeições. Mas a culpa é nossa, é fácil desligar o aparelho.

Hoje, 24 de outubro de 2009. Um sábado chuvoso, fiquei deitada no sofá da sala exercitando meu domínio sobre o controle remoto. E trocando de canal, fui aportar na Record, em um programa chamado ‘Troca de Família’. Troca de Família é um reality show em que duas famílias diferentes trocam de mães por uma semana e têm que se adaptar a uma rotina totalmente nova, um verdadeiro desafio de tolerância e jogo de cintura.

Já havia visto outros programas desta série, porém nenhum chegou a me emocionar. Bem ao contrário. Mas esse, que mostrou Marina – a mãe que mora em Suzano/ São Paulo – e Linda, a mãe que mora em Aracajú/ Sergipe foram perfeitas nos seus sentimentos mais nobres, nas suas emoções, em simpatia, em amar o próximo, em esquecer mágoas, em ignorar as diferenças sociais, os preconceitos e se doarem ao máximo para se integrarem uma à família da outra.

Marina, dentista de formação, 1 filha, marido campeão olímpico e ótima condição econômica; Linda, dona de casa suburbana, 2 filhos, casada com um músico do subúrbio e de condição econômica pobre. Dois mundos, duas realidades opostas.

Marina soube lidar com todas as precariedades que encontrou na família de Linda, mesmo no primeiro dia onde encontrou poucos recursos, já no café e no almoço... Arregaçou as mangas e mãos à obra; fez e comeu o que tinha até resolver a situação com discrição.

Quero dizer aqui o que senti hoje; chorei sim, por ver aquela gente boa e humilde daquela vila precária de Aracajú contracenando com gente mais abastada de um bairro nobre de Suzano. É saudável a gente poder se emocionar com situações onde não existe lugar para rancor e ódio; é muito bom poder ver e sentir a capacidade que o ser humano pode ter para amar nas adversidades e conviver com as diferenças.

Estamos tão acostumados com desgraças que isso que vi foi emocionante sobre o ponto de vista social e psicológico. Gostei de ver essas duas mulheres que choraram porque foram bem recebidas; que choraram porque foram bem tratadas; que choraram porque foram muito amadas por pessoas estranhas. E choraram porque também amaram o ‘desconhecido’ sem preconceitos. Principalmente Marina, a mãe de Suzano / SP.

Depois de muita violência, um pouco de paz.

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