Redes sociais

terça-feira, 25 de maio de 2010

ENTRE A CIDADE E A ROÇA com Carlos Aires


Eu que vivo na cidade a mais de trinta anos jamais serei praciano, pois gosto mesmo é de ser matuto. Gosto do cheiro de curral e do leite tirado na hora do peito da vaca, lá no mato a gente vive sem se importar com vocabulário nem com etiquetas essas formalidades que tem que se aprender pra poder viver na cidade.

Mas vez por outra aparece por esses sertões algum almofadinha folgado querendo ser mais do que todo mundo e achando que porque é da praça e letrado chega no sertão vai “abafar”.

É puro engano!!! Encontra um matuto com a cara de abestado, mas que de besta só tem a cara, na realidade é desenrolado todo tal qual o personagem do causo abaixo.

Caso o nobre leitor se interesse pra saber boa parte dessa historia leia o causo que segue e veja que o matuto se saiu bem diante do praciano.

Confira comigo!!!

O MATUTO E O PRACIANO!!!

Quem vive de poesia
Ver situações estranhas
Relata em seu dia a dia
As mais incríveis façanhas
Como o caso incrementado
Que ora vai ser narrado
E logo especifico o plano
Ao qual faço atributo
Citando o broco matuto
E o moderno praciano

O praciano chegou
No mato todo empolgado
E pro matuto falou!!
Sou doutor advogado
O meu nome é Daniel
Sou filho de Emanuel
Um grande criminalista
Mamãe é doutora Ana
Lá em Feira de Santana
Ela é a melhor dentista

Da cidade de Condor
O meu tio é o prefeito
Tenho um primo promotor
Outro juiz de direito
Minha tia é oculista
Vive cuidando da vista
De quem não enxerga bem
Meu avô foi deputado
Meu irmão é delegado
A irmã, doutora também

Moro numa cobertura
No vigésimo quinto andar
Recebendo a brisa pura
Dos ventos que vem do mar
E nesse clima agradável
Dessa vida confortável
Eu nunca irei abrir mão
O meu carro é importado
Novo do ano, zerado
Pois disso faço questão


O matuto admirado
Com tanta modernidade
Ficou sereno e calado
Depois tomou liberdade
E disse assim, muito bem
Cada um mostra o que tem
Não quero lhe atrapalhar
Ouvi tudo e lhe dei crença
Mas, se o senhor der licença
Eu quero me apresentar

Sou Zé de Joaquim Pelado
Minha mãe é Severina
E neto de Biu Calado
Mais de dona Jarmilina
Que eram pais do meu pai
Já sei que o senhor vai
Perguntar os de mainha
Então eu digo primeiro
Vovô foi Mané Ferreiro
Vovó foi dona Zefinha

Só sei trabalhar na roça
No cabo da minha enxada
Sou caboclo da mão grossa
Forte, rude, calejada
Planto milho, macaxeira
Feijão, cará, bananeira
Fava, batata e algodão
De sol a sol estou no eito
Mas vivo bem satisfeito
Nos cafundó do sertão

Meus irmãos são dezessete
E não tem nenhum formado
Ao matuto não compete
Ter estudo, ser letrado
Vou citar minha irmandade
A mais velha é Soledade
Tereza, Joana e Sabina
Joaquim, Cesário e Apolônio
Cosme,Damião,Antonio
Pedro, João e Ambrosina

Ainda tem Sebastião
Luiz, Jacinto e Tomé
Completando a coleção
Eu que me chamo José
Pra mãe mais pai não foi mole
Era muito grande a prole
Sem conforto e no mau trato
Cada um de nós foi criado
Trabalhando no roçado
E comendo caça do mato

Fui criança sem infância
Já sofri com fome e sede
Tratado com arrogância
Dormindo no chão ou em rede
Comendo alimento fraco
Meu cobertor era um saco
Pra não dormir ao relento
Mas sou sertanejo forte
Caro doutor, meu transporte
Nunca passou de um jumento

Mas mesmo assim eu adoro
Essa vida campesina
Gosto do lugar que moro
Sem fumaça e nem buzina
Me acordo de madrugada
Escutando a passarada
Na maior felicidade
Por isso eu digo doutor
Que não invejo o senhor
Nem a vida na cidade

Carlos Aires 24/05/2010

1 Comentários:

  1. Oi poeta irmão Felipe Junior, que bom ler um poeminha meu no seu Blog adorei!!! um abraço poético,Carlos Aires

    ResponderExcluir

GOSTOU DA POSTAGEM? DEIXE O SEU COMENTÁRIO.