SOBRE A
PERPETUAÇÃO POLÍTICA E OS DANOS SOCIAIS
Felipe Júnior*
A visão da sociedade sobre ideologia política está cada vez mais
fragmentada. E não é por falta de políticas públicas, mas pela ausência de
público crente em uma política de mudança, visto a descrença frente à confiança
uma vez posta aos seus gestores. É daí que surge o que chamamos de Ciclo da
Descrença Política: pessoas que, uma vez optando pela anulação do voto,
repassam esta ideia a tantas outras.
A grande problemática do poder se define
pelo simples fato de que, uma vez desfrutando do poderio político-social,
imaginamos ser esse poderio, ininterrupto, imutável e intransferível.
Entretanto, há, pelo senso comum, razão nesse entendimento, pois sempre
cogitamos que ninguém é capaz de fazer o trabalho melhor do que nós mesmos, ou
que ninguém pode dar, com exceção de nós mesmos, continuidade ao que já foi
posto. Não é recente o grande número de políticos que buscam, tentam ou
conseguem, não necessariamente nessa ordem, eleger seus sucessores. Basta
analisar os sobrenomes, familiaridade ou apadrinhamentos, necessariamente nessa
ordem, que estão nas nossas Câmaras, Assembleias e no Congresso Nacional.
O surgimento da perpetuação política é
alimentada cada vez mais por nossos políticos e isto é uma afronta ao sistema
democrático. Aristóteles, através dos tempos, nos diz que, como seres
pensantes, somos necessariamente seres políticos, quer seja no sistema político
social, quer seja na nossa casa ou até mesmo no nosso trabalho. Penso que
alguns políticos fazem uma interpretação errônea deste pensamento aristotélico.
É fato, segundo o pensador, que todos nós somos seres políticos, mas nem todos
temos a capacidade de representação política frente à sociedade. A problemática
está justamente quando queremos usufruir do poder que nos é dado para satisfação
do nosso ego. A democracia nos revela que o poder é para ser posto a serviço
unicamente da sociedade e, quando este se encerra democraticamente, faz-se
necessário que outro usufrua deste mesmo poder, através do voto, para inovar ou
dar continuidade ao que já foi posto. Entretanto, o que vemos hoje é uma
perseguição ferrenha aos projetos elaborados ou executados por um gestor, caso
este seja opositor ideologicamente (às vezes pessoalmente) daquele. É daí que
se concretiza o dano social. A
sociedade não pode sofrer quaisquer danos dessa natureza. É intolerável.
O sistema político brasileiro aprovou a
emenda constitucional n° 16, de 04 de julho de 1997, que trata da reeleição. O
objetivo da emenda agraciava gestores que não concluíram seus projetos no prazo
estabelecido na constituição, o de 4 anos, podendo estes se reelegerem por mais
4 anos. O grande problema no Brasil é o que chamamos de grupos políticos, sim, unicamente patotinhas políticas sem ideal partidário (aliás, quem lê estatuto
partidário antes de se filiar a algum partido político?), sem identidade
própria e sem propostas de mudança, que não só defendem, mas lutam
acirradamente pela perpetuação no poder.
É preciso que, ao invés de defendermos
uma reforma política emergencial, defendamos uma reforma urgente na forma de se
pensar política no Brasil, evitando os danos que tantos são prejudiciais à
sociedade brasileira.
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*É
filósofo e presidente da União dos Cordelistas de Pernambuco-UNICORDEL
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