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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

CRÔNICA com Antonio de Campos


Cerimônia da lavagem das escadarias da Igreja da Sé (Olinda), ontem, por conta de impedimento (rachaduras)na Igreja de Nosso Senhor do Bonfim


LAVAGEM &  VASSALAGEM
Antonio de Campos

O homem gosta de ser enganado.
Adorno

No tempo em que a Igreja & nossos colonizadores, ambos escravistas,
proibiam os negros de praticarem seus cultos, estes,
oprimidos, lançaram mão do sincretismo.

E, dentre outros santos, sincretizararam Jesus Cristo
(Nosso Senhor do Bonfim, na Bahia) com Oxalá.

O sincretismo não faz mais sentido.

Os negros já não precisam de fingir prestar culto a Jesus Cristo
ou ao Senhor do Bonfim ou a qualquer outro santo que seja,
visando enganar seus opressores,
estando com a mente voltada para seus Orixás.

Mas o povo-de-Santo (Candomblé) continua presos à tradição inútil
& desnecessária da permuta de Orixás por santos do panteão da Igreja,
quando tem o seu próprio panteão, com idêntica dignidade
e mais beleza de culto e os pode livremente cultuar.

Santos católicos da mesma verdadeira Igreja de Cristo,
permissiva & omissa, que até bem pouco tempo justificava,
de Bíblia aberta nas mãos em Gênesis 9:25,
a escravidão negra,

possuindo ela própria escravos negros,
tornando assim explícito o seu apoio à escravidão que deixou correr frouxa  na América Latina,

cujos efeitos perniciosos perduram
até o momento numa sociedade hipocritamente racista
em que os negros, construtores do Brasil,

têm menor acesso à educação do que os brancos,
e, em compensação, maior acesso às prisões do que os brancos.

E lá se vão eles, felizes, ladeira abaixo na inocente cerimônia da lavagem das escadarias a partir das portas da Igreja da Sé (Olinda),
em puro estado de letargia ou da mais decantada amnésia
de que do outro lado da rua exatamente, ergue-se o Palácio de Yemanjá
(Terreiro de Pai Edu),

donde poderiam sair lavando a Ladeira da Misericórdia
com água de cheiro,
até essas águas doces & perfumadas de Oxalá se encontrarem,
na planície, com as águas salgadas de Yemanjá,
águas do Oceano Atlântico
que, à mais bruta força, seus ancestrais tiveram de atravessar,

sem que tivessem de prestar vassalagem
à Igreja que abençoava aquela travessia e até ontem
tratava seus tatás* como objetos, bens, coisas, bestas,

a despeito de alguns santos pretinhos no altar para engabelar
e de algumas bulas papais
que condenavam a escravidão apenas de fachada.

*avós

 janeiro 14, 2013

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