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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A VEZ DO POETA com José Irlando Morais

Seu moço essa minha istôra
É de cortá coração
Mais eu conto a todo mundo
Pra que sirva de lição
A misera de nois home
Que se alimenta da fome
Do orguio e da mardade
Carrega nossa isperança
Acaba a fé das criança
Nessa tá humanidade

Eu vi passá na istrada
Que passa no meu terrero
Uma famia todinha
Paricia um fuimiguero
O casá ia na frente
Dois rapaz e cinco moça
Três minino miudinho
E no colo um bebezinho
Levava um saco e uma boça

Era tudo má trapilo
Tudinho de pé no chão
Ia andando sem rumo
Atravessando o sertão
Me pidiro uma posada
Ali na minha morada
Na berada do açude
Tudo mago lazarino
Home, muié e minino
Tudo cuberto de grude

Eu mostrei o meu paió
Que tava disocurpado
Dei a eles um sabão
E tratei do cuzinhado
Cumero cum aligria
Os minininho se ria
Quando viro a cumida
Seu moço me dueu tanto
Qui num sigurei o pranto
Pensando na minha vida


Zé do ruzaro era o nome
Do chefe dessa famia
Intonçe ele me contô
Que já teva posse um dia
Tinha uma nesga de terra
Ficava num pé de serra
Por nome sítio muquém
Prantava todo ligume
Tinha um rancho de tapume
Nada divia a ninguém

Mais um dia seu vizinho
Um tá de João coroné
Inventô de cubiça
A sua fia isábé
Era um veio asquerozo
Desses bandido seboso
Do bigode amarelado
E pá num tê ribuliço
Mandô o seu fio ciço
Ir dexá a sua irmã
Lá na casa dum cunhado.

João coroné Le jurô
Que ia querê vingança
I dipressa ele mostrô
Que era de imbuança
Mando cortá o arame
Aquele mardito infame
Tombém queimô o roçado
Jogou gás lá no barrero
Fez pantim lá no terrero
E matô todo o seu gado

Era só quato vaquinha
Tudo de bizerro novo
Três preta e uma branquinha
Quando eu me lembro me morro
Matô todo os bacurim
E as galinha tudim
Cum mais quato pistolêro
Foi um dia de tristeza
Quebrô os pote e a mesa
Me dexô no disispero

Intonce eu peguei meu povo
E sai pelas istrada
Percurando um ôto rumo
Sem na vida tê mais nada
Mais numa noite triguera
Eu vortei com a pexêra
E dei fim o disgraçado
Vinguei a minha disgraça
Só pui causa da pirraça
Hoje eu vivo nesse istado

Hoje seu Zé do ruzaro
Mora num rancho tapado
Trabaia na minha terra
Alimpando seu roçado
Os fio tão na iscola
Não pricisa de irmola
Já tem sua criação
Faça também caridade
Ajude a humanidade
Acoia quem pede a mão

Se alembre do caipintero
Que nasceu em Nazaré
Sarvadô do mundo intero
Dê uma chance pá fé
Ajude a quem num tem nada
Faça da vida uma iscada
Tenha deus no coração
Tem tanta gente cum fome
Que de seu só tem o nome
E o caminho de chão

Dê a rôpa que Le sobra
Já ta chegando o natá
Pois a mãe de deus nos cobra
Quando se pode ajudá
Mate a fome de um irmão
Dê um inzempro cristão
Ajude um nicissitado
Quem pratica a caridade
Logo cunhece a verdade
E é por deus abençoado.

José Irlando Morais

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