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sábado, 26 de setembro de 2009

UNS REPENTES E COISA E TAL...

Por Pedro Fernando Malta

Anizio

O poeta que escreve é pensador
Vai pensando no tema e escrevendo
Se errar ele apaga e faz remendo
Assim faz um poeta escrevedor
Não é bom como improvisador
Com caneta ele é bom pra divulgar
Os seus contos poéticos popular
Mas poetas merecem o paraiso
Repentista faz tudo de improviso
Sem demora tem resposta para dar.

* * *

Manoel Bem-te-vi

Da bobina para o distribuidor
Há um cabo que passa uma centelha clara
Meto o pé no arranco, ele dispara
Toda vez que acelero meu motor
O combustível entra no carburador
A entrada de ar transforma o gás
Com a compressão que ele faz
Forma o jato, o êmbolo vai subindo
Vai queimar na cabeça do cilindo
A fumaça da gasolina sai por trás.

* * *

Raimundo Caetano

No calor do verão a terra morta
Não permite que nasça a plantação
Nas estradas tapadas de poeira
Todo dia se arrasta um mutirão
Que a fogueira da seca nordestina
Queima toda esperança do Sertão

* * *

Severino Ferreira da Silva

Muito me admira o galo
O nanico ou carijó
De dez ou vinte galinhas
Ele é quem dá conta só
Sem precisar vitamina
Nem caldo de mocotó.

* * *

Severino Feitosa

Uma velha aperreada
Mais quente do que pimenta
Dizia pra o seu velho
Cade sua ferramenta?
Mas meu véi que diabo é isso
Ai ai ui ui
Nem levanta e nem esquenta.


* * *

José Melquíades

Certo dia à tardinha eu fui chegando,
estava um velho deitado na calçada
numa vida cansada, aperreada
e seu filho mais novo namorando,
e o velho, coitado, se apertando,
vendo o filho a mocinha agarrar,
ele vendo seu filho namorar,
disse a ele: “eu já fui assim também!”,
mas a velhice é doença que não tem
medicina que possa lhe curar”.



* * *

Daudeth Bandeira

Foi do tempo de Avelino,
de Marinho e de Nicandro,
de Chico Pedra, Leandro,
de Pinto, Louro e Galdino,
que ouvi, desde menino,
falar nesse campeão,
rolam por aquele chão,
os retalhos de lembrança.
Foi Belarmino de França
Um trovador no sertão.

* * *

José de Sousa Dantas

Foi Belarmino de França
Um trovador do sertão,
que cantou com emoção
para toda a vizinhança,
que conserva na lembrança
seus versos por simpatia,
que ele compôs um dia
e se canta como um hino.
A vida de Belarmino
Era plena poesia.

* * *

Paulo Camelo

Atirei meu casaco sobre a mala
e me pus novamente a caminhar.
Essa longa jornada para o mar
escondeu do meu rosto o riso, a fala.
Eu deixei minha rede lá na sala
E parti com vontade de voltar.
Precisava, entretanto , trabalhar
pra poder ser alguém, ganhar a vida
e ter mais liberdade. Essa ferida
em minh’alma eu não sei se vai sarar.

* * *

Adalberto Pereira

Pra ferir sou pior do que machado,
quando canto estremeço o firmamento,
desaforo de ninguém eu não agüento,
cabra ruim comigo sai machucado,
come cru e corre desesperado,
já venci uma batalha sozinho,
derrubei quem passava em meu caminho,
deixei sangue espalhado pela terra,
estou pronto para enfrentar outra guerra
nos dez pés de Martelo Miudinho.

* * *

Lourival Bandeira

Cavalo fica pra sela
Batente para janela
Fogão ficou pra panela
Cangaceiro pro sertão
Cadeira ficou pra réu
Cabeça pra chapéu,
Noiva ficou para o véu.
E eu pra cantar quadrão

* * *

Joaquim Vitorino

Tenho enorme inteligência
Poeta não me dá vaia
Sou vento rumorejando
Nos coqueiros de uma praia
Sou mesmo, que Rui Barbosa
Na conferência de Haia.

* * *

Braulio Tavares

Superei com o valor da minha prosa
o meu mestre imortal Graciliano,
os romances de Hermilo e de Ariano
e as novelas de João Guimarães Rosa;
sou maior que Camões em verso e glosa,
com Pessoa também fui comparado,
tenho a verve do estilo de Machado
e a melódica lira de Bandeira:
sou o Gênio da Raça Brasileira
quando canto martelo agalopado!

* * *

Lira Flores

Quando as tripas da terra mal se agitam
E os metais derretidos se confundem
E os escuros diamantes que se fundem
Das crateras ao ar se precipitam,
As vulcânicas ondas que vomitam
Grossas bagas de ferro incendiado
Em redor deixam tudo sepultado!
Só com o som da viola que me ajuda,
Treme o sol, treme a terra, o tempo muda,
Eu cantando martelo agalopado!

* * *

Gilberto Alves

Seu talento não dá pra comparar
Ao talento do repentista esperto
Dessa categoria de Gilberto
Que é artista de nome popular
Se você for o rio eu sou o mar
Se você for navio eu sou o cais
Se você for a guerra eu sou a paz
Pra provar a maior categoria
Eu só vejo na sua cantoria
Propaganda enganosa e nada mais

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