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domingo, 24 de janeiro de 2010

OSTRAS NADA SAUDÁVEIS

Segunda-feira de descanso e lá estava a cabeleireira Thalita Vaneska de Lima, 22 anos, pegando um solzinho em Boa Viagem e se deliciando com um dos mais populares quitutes praieiros - as ostras.


Para temperar, um pouco de sal, cominho, azeite, limão e uma quantidade incontável de coliformes fecais. Se a sua reação foi gritar eca! é bom pensar duas vezes antes de se deliciar com esses moluscos vendidos crus à beira-mar. Thalita Lima, claro, não sabia do "ingrediente" escondido no seu aperitivo. Mas se expôs ao risco mesmo depois de já ter apresentado infecção intestinal por três vezes após ter consumido esses moluscos. Os especialistas alertam: ostras cruas podem ser um veículo de transmissão de doenças. De intoxicações alimentares a hepatites.




Para verificar o nível de contaminação de parte das ostras vendidas em praias do Grande Recife, o Diario fez um teste. A reportagem comprou o produto de quatro ostreiros, em quatro cidades - Paulista (Praia de Maria Farinha), Olinda (Casa Caiada, próximo ao Bompreço), Recife (Boa Viagem, em frente ao Edifício Acaiaca) e Jaboatão dos Guararapes (Piedade, perto da igrejinha). Os moluscos, que estavam vivos e com as conchas fechadas, foram encaminhados logo após a compra para o Laboratório de Experimentação e Análise de Alimentos (Leaal) do Departamento de Nutrição, da Universidade Federal de Pernambuco. Lá, foram feitas as análises previstas em legislação sanitária (Salmonella e Estafilococos) e um exame a mais, o de coliformes, indicativo de contaminação fecal.


Não foi verificada a presença de Salmonella e Estafilococos em qualquer das amostras. Mas no quesito coliformes fecais, duas foram reprovadas, as de Casa Caiada e de Boa Viagem. As últimas, compradas do mesmo "lote" provado pela cabeleireira Thalita Lima. Nos dois casos, foi constatado alto índice de contaminação, o que fez com que as amostras fossem consideradas impróprias para consumo na forma in natura. Segundo a coordenadora do Leaal, Margarida Angélica da Silva Vasconcelos, quem consumisse ostras dessas amostra corria o risco de apresentar infecção intestinal, com diarreia e dores abdominais. "Já no caso de crianças, idosos e pessoas imunodeprimidas (com o sistema de defesa do organismo debilitado), elas poderiam gerar complicações maiores", disse.


Os resultados aparentemente satisfatórios das amostras de Maria Farinha e Piedade não são suficientes para afirmar que as ostras estavam livres de contaminação. De acordo com Angélica Vasconcelos, poderiam conter Pseudomonas aeruginosa, bactéria que inibe o crescimento dos coliformes, induzindo um resultado satisfatório. Para poder poder liberar uma amostra de ostras para consumo, explica, seria necessário fazer testes para verificar a presença de Vibrio cholerae (cólera), Vibrio parahaemolyticus (infecção intestinal), Pseudomonas aeruginosa (infecção), Clostridio sulfito redutor (indicador de contaminação fecal), Enterococos (infecção) e Escherichia coli (infecção intestinal).


Segundo a chefe do Núcleo de Medicina de Viagem do Hospital das Clínicas e coordenadora do Comitê Científico de Medicina de Viagem da Sociedade Brasileira de Infectologia, Sylvia Lemos Hinrichsen, como as ostras são consumidas vivas, podem levar metais pesados e bactérias para o organismo humano, causando intoxicação alimentar, gastroenterites, febre tifóide, infecções e até hepatites. E dependendo da doença, os primeiros sinais podem levar anos para surgir.


Esses moluscos se alimentam filtrando a água do mar. E é aí que está o problema. Segundo o engenheiro de pesca e diretor do projeto Ostravitta, incubado na Universidade Federal Rural de Pernambuco, Frederico Cardoso Aires, uma ostra concentra, em média, 30 vezes o que estiver suspenso na água. De acordo com ele, em Pernambuco, os manguezais que servem de habitat para esses moluscos foram poluídos pelos esgotos.


Depuração - Ostras são fonte de zinco e vitaminas, por exemplo. E receberam a fama de serem afrodisíacas e ajudarem no rejuvenescimento das células. Cerca de 80% das comercializadas em Pernambuco são de Itapissuma, mais precisamente do Canal de Santa Cruz. O canal recebe esgoto de parte da cidade e de mais quatro municípios: Itamaracá, Goiana, Igarassu e Paulista. Na cidade há 1.923 catadores e comerciantes do molusco. Em março deste ano deve ficar pronto o primeiro centro de depuração. O prédio está em construção e deverá abrigar seis tanques de depuração com água corrente, processo que garante a purificação das ostras. Cada tanque terá capacidade para guardar até 250 ostras simultaneamente e o processo todo dura quatro horas, em média. A princípio, 90 ostreiros serão beneficiados. Mas a meta é chegar a todos os 1.923.


Piedade


Origem: Itapissuma
Data da pesca: 10 de janeiro de 2010, no dia anterior ao da compra
Preço: cerca de 45 ostras a R$ 5,50


Resultados:


Salmonella spp/25g - ausência
Estafilococos coagulase positiva (unidade formadora de colônia / grama) - ausência de crescimento
Coliformes fecais a 45°C NMP/g (número mais provável por grama) - 4,3 (valor que não representa perigo ao consumidor)


Boa Viagem


Origem: Alagoas
Data da pesca: as ostras chegaram a Pernambuco no dia 8 de janeiro de 2010, três dias antes da compra
Preço: três ostras a R$ 5


Resultados:


Salmonella spp/25g - ausência
Estafilococos coagulase positiva (unidade formadora de colônia / grama) - ausência de crescimento
Coliformes fecais a 45°C NMP/g (número mais provável por grama) - > 110 (quantidade incontável, o que representa alta contaminação)


Casa Caiada


Origem: Itapissuma
Data da pesca: 11 de janeiro de 2010, mesma data da compra
Preço: oito ostras a R$ 1


Resultados:


Salmonella spp/25g - ausência
Estafilococos coagulase positiva (unidade formadora de colônia / grama) - ausência de crescimento
Coliformes fecais a 45°C NMP/g (número mais provável por grama) - > 110 (quantidade incontável, o que representa alta contaminação)


Maria Farinha


Origem: manguezal de Maria Farinha
Data da pesca: 11 de janeiro de 2010, mesma data da compra
Preço: seis ostras a R$ 1


Resultados:


Salmonella spp/25g - ausência
Estafilococos coagulase positiva (unidade formadora de colônia / grama) - ausência de crescimento
Coliformes fecais a 45°C NMP/g (número mais provável por grama) - 0,36 (valor que não representa perigo ao consumidor)


A produção


Ostras são moluscos bivalves (com conchas formadas por duas valvas) que se alimentam fintrando a água do mar


Produção de ostras em toneladas / 2007


Maranhão 122
Piauí 28
Paraíba 41,5
Pernambuco 239
Alagoas 195,5
Sergipe 1
Bahia 30
Espírito Santo 20,5
Rio de Janeiro 3,5
São Paulo 188,5
Paraná 157
Santa Catarina 1.158,5


Total 2.185


Fiscalização:


O controle de comercialização cabe às agências de vigilância sanitárias estaduais ou municipais, sob coordenação da Anvisa. O controle das áreas de cultivo e extração de moluscos está sendo implantado nos estados pelo Ministério da Pesca e Aquicultura, em parceria com os governos estaduais. Isso já é realidade em Santa Catarina, São Paulo e Bahia. Com apoio técnico da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, o Ministério está desenvolvendo, também, um programa de rastreabilidade dos moluscos, desde a colheita até o consumidor final



Fontes: ostreiros, Laboratório de Experimentação de Análises de Alimentos / Departamento de Nutrição daUFPE, Ministério da Pesca e Aquicultura e Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa)

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